Para falar do “pH” da água e das suas possíveis implicações para a saúde humana, convém primeiro explicar o que é esta medida, o “pH”.
O “pH” é uma sigla que significa “potencial de Hidrogénio”, ou seja, é uma forma de apresentar a quantidade de iões H+ (hidrogénio) que existem numa determinada substância, neste caso, a água. São estes iões que permitem classificar as soluções líquidas de “ácidas” ou “básicas”. Se houver uma grande concentração de H+, o pH é baixo, ou seja, é ácido (pH<7). Caso contrário, o pH é alto e a solução é chamada de alcalina (pH>7).
Em Portugal, o Decreto-lei n.º 306/2007 prevê que a água para consumo humano é considerada de boa qualidade quando o seu valor de pH se situa entre os 6,5 e os 9 (e idealmente entre os 7 e os 8), ou seja, pode oscilar entre “ligeiramente ácida”, “neutra” ou “alcalina”. O último relatório da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), referente a 2015, atesta que 99% da água para consumo humano a nível nacional é de boa qualidade, pois preenche os limites dos parâmetros considerados no referido Decreto-lei. Beber água da torneira é seguro!
A medida do pH é apenas uma das formas de classificar a acidez (ou alcalinidade) de uma substância. Sabe-se hoje que não apenas os líquidos podem ser classificados conforme o seu potencial ácido ou alcalino, mas também os alimentos sólidos. Para isto, convém compreender que não é apenas o ião H+ que contribui para esta classificação, mas também o seu conteúdo em proteínas, sulfatos, fósforo, potássio, magnésio, sódio, cloro e cálcio. Há para isto uma fórmula de cálculo denominada de PRAL (Potential Renal Acid Load -> “potencial de carga ácida renal”). Através desta forma pode-se então concluir que todas as frutas e hortícolas e a generalidade das águas minerais (incluindo a da torneira) têm um “potencial alcalino”, enquanto que todos produtos de origem animal (carne e derivados, lacticínios, pescado e ovos), açúcar e alimentos açucarados, bebidas alcoólicas, café e chá, leguminosas, frutos gordos e sementes, cereais e derivados (exceto quinoa, batata e batata-doce) têm um “potencial ácido”.
O problema das dietas ocidentais está no equilíbrio de ingestão entre estes grupos de alimentos. Os orientais dos meios rurais ingerem muitos cereais e derivados e hortofrutícolas, mas não ingerem carne. Os nossos antepassados ingeriam muita carne e hortofrutícolas, mas não ingeriam cereais e derivados. De uma forma geral a dieta destes grupos era provavelmente mais alcalina, mas era ao mesmo tempo mais rica nutricionalmente pela quantidade e variedade de vitaminas e minerais.
Qual o impacto do ácido/alcalino para a saúde humana?
Se pensarmos apenas em termos de pH estaremos a ser muito redutores e não iremos encontrar qualquer evidência científica entre valores de pH de alimentos e implicações de saúde. O corpo humano tem o chamado “sistema-tampão” (a nível renal, pulmonar e metabólico) que serve para neutralizar o pH de tudo o que entra no organismo (alimentos e medicamentos essencialmente) e não permitir oscilações no pH do sangue (que tem uma “afinação” / controlo muito apertado, oscilando apenas entre 7,35 e 7,45) e celular. Note-se por exemplo que o pH normal médio da urina oscila entre 5,5 e 6,5, e o normal do nosso estômago entre 2,5 e 3,5. Penso que fica compreendido que qualquer alimento, sendo ele sólido ou líquido, vai passar por muitas fases antes de ser absorvido para a corrente sanguínea e transportado para as células e, quando chega a estas, está já ajustado ao ambiente normal desses compartimentos corporais. Para finalizar o seu percurso, os seus “restos”, que são excretados pela urina e fezes, seguem mais algumas fases de adaptação até se enquadrarem nos normais ambientes desses produtos. Qualquer pessoa saudável tem capacidade de neutralizar o potencial ácido e alcalino dos alimentos de forma eficaz, estando por isso, livre de doença. Se não fosse assim, por absurdo poderíamos dizer que beber um copo de limonada poderia ser fatal para o ser humano…
Temos de pensar nos alimentos no seu todo, na sua riqueza e variedade nutricional, e não somente no seu potencial ácido/alcalino. Por exemplo, uma água mineral alcalina rica em bicarbonatos tem tanto efeito positivo na saúde óssea como uma água mineral mais ácida e rica em cálcio. Ajustar a dieta em termos de acidez/alcalinidade apenas se justifica em casos particulares de doenças renais, pulmonares, diabetes, desidratação e/ou desnutrição, ou seja, casos graves de doença em que a capacidade de equilibrar metabolismo do organismo está afetada.
De uma forma geral, devemos manter uma dieta equilibrada (não APENAS, mas) TAMBÉM em termos de pH, ou seja, os produtos de origem animal bem equilibrados com os de origem vegetal, evitando os alimentos “artificiais” e/ou açucarados e pobres nutricionalmente.
Para terminar, e porque este texto é sobre a água, use e abuse da água da torneira e quanto à água engarrafada mineral natural, pela sua riqueza e variedade de conteúdo mineral entre as marcas comerciais, vá variando o máximo possível.
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Nutricionista: amante do tipo de cozinha que procura aliar saúde aos melhores sabores; Mulher: apaixonada pela verdadeira beleza das coisas mais simples; Objectivo: ser feliz na medida do possível, gostar de mim todos os dias e ajudar quem me segue, nesse mesmo caminho.

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