Estou em Itália e por isso não podia deixar de comentar esta notícia. Antes de lerem este texto, sugiro que abram o link para ela e leiam (aqui).
Referi num post anterior que há mais de 100 variáveis que controlam o funcionamento do nosso corpo. Estas podem ser fisiológicas/biológicas, estar relacionadas com a produção e ingestão alimentar, assim como com a psicologia individual e influências socioculturais do meio envolvente, e ainda com a atividade física.
Para o caso descrito nesta noticia recente, intitulada “o segredo da longevidade” a que se assiste nesta vila de Itália, são abordadas maioritariamente variáveis relacionadas com a genética, fisiológicas e biológicas, mas também – inevitavelmente – se desenvolve um pouco a “joie de vivre”, ou seja, a alegria, o prazer de viver.
Há vários locais do mundo onde a esperança média de vida é muito superior ao resto do globo terrestre e o exemplo mais conhecido é o da população de Okinawa (Japão). Nesta localidade as pessoas consomem muitos hortícolas e fruta fresca da época, bem como algas, cereais, leguminosas, muito mais peixe do que carne e acima de tudo, consomem estes alimentos de uma forma muito comedida. Está descrito inclusivamente que ingerem apenas cerca de 80% do que o corpo realmente necessita. Para além deste padrão alimentar, levam uma vida simples, com muita atividade ao ar livre, seja nos seus trabalhos (mais ligados à agricultura, pesca e pecuária), como nos seus tempos de lazer.
Um estudo de Harvard, também divulgado recentemente, que acompanhou indivíduos durante 75 anos das suas vidas, concluiu que “a preservação de uma boa saúde física e mental e a sensação de viver uma vida feliz e preenchida/satisfatória, resulta dos bons relacionamentos familiares (netos-filhos-pais-avós, etc.), com os amigos e com a comunidade em geral. Não vem com a fama, riqueza ou grandes feitos/conquistas.”
Em suma, todas estas “descobertas” ou conclusões mais recentes, permitem perceber que não somos só aquilo que comemos. Somos seres sociais, com uma determinada cultura, com famílias, mas com uma musculatura que necessita de ser exercitada e com um corpo e uma mente que necessitam de ser bem nutridos.
Neste estudo realizado em Cilento (Itália), foca-se também a importância do consumo de alecrim e rosmaninho. Poder-se-iam citar outros condimentos que tornam a nossa alimentação enriquecida, variada e saborosa, mas estes são suficientes para demonstrar que nem só de sal vive o Homem. O baixo consumo deste nutriente, de açúcar e de produtos processados, a manutenção de uma atividade regular, e das interações sociais “face-2-face” (cara-a-cara), os reduzidos níveis de stress, a baixíssima (senão mesmo inexistente) exposição ao marketing alimentar, ao sedentarismo associado ao “consumo de televisão”, o culto da imagem corporal, são tudo fenómenos que provocam a aculturação (perda de cultura e identidade social) das comunidades. A distorção da importância de uma alimentação saudável, o consumo de tabaco e álcool são fatores de risco de doença modificáveis, tal como o meio ambiente é desfavorável, na maioria dos locais do mundo, a uma vida sã de cabeça e corpo e mente.
Vale a pena pensar nisto…
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Nutricionista: amante do tipo de cozinha que procura aliar saúde aos melhores sabores; Mulher: apaixonada pela verdadeira beleza das coisas mais simples; Objectivo: ser feliz na medida do possível, gostar de mim todos os dias e ajudar quem me segue, nesse mesmo caminho.

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