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Ontem tive um dia agradável… Atípico, com alguns contratempos, mas BOM. Tudo depende da perspectiva, do que valorizamos mais quando relatamos os factos e sobretudo quando os vivemos…

Terminei o dia na loja de uma amiga. Assim que entrei perguntou-me, como seria esperado, “como correu o teu dia?” A minha resposta imediata foi: bem, aliás muito bem- não me magoei e encontraram a minha carteira. Ela parou a olhar para mim com cara espantada e eu sorri. Descrevi-lhe então o meu dia, como vou fazer agora… À quarta-feira tenho menos de uma hora para me deslocar do sítio onde trabalho de manhã, para o sítio onde trabalho à tarde, percurso esse em que, ontem, senti um estrondo de todo o tamanho – um tir enorme embateu no meu carrinho. Parei uns segundos e pensei “estou bem, mas o meu carro deve estar desfeito”, felizmente saí e vi que apenas o retrovisor andava perdido no meio da estrada. Resolvemos tudo em minutos e segui, cheguei a tempo da primeira consulta. Entretanto tudo acalmou, confesso que após ligar para a seguradora e marcar peritagens e essas coisas, acabei por ficar tão absorvida no meu trabalho, que nem me lembrei mais que a viagem no final da tarde seria feita com menor visibilidade. Nesse tal final da tarde, terminado o trabalho, levantei umas encomendas e segui para o carro. Pousei a carteira em cima, juntamente com uma revista e arrumei bem a bagageira para caber tudo. Ufa! Entrei e segui para um tratamento- tudo certinho, ia chegar a horas. Correu bem, consegui estacionamento do lado esquerdo, o que facilitou bastante e segui para o meu tratamento. No final ia pagar e não tinha dinheiro, aliás, não tinha carteira. Pânico! “Tenho lá tanta informação importante e… Os cartões de tudo e mais alguma coisa!”
Não tive tempo de terminar este pensamento, o telefone tocou e uma voz meiguinha soou: “é só para a descansar, a sua carteira está aqui. Encontraram-na no parque e vieram entregar.” Graças a Deus! A recepcionista que continuava à minha frente percebeu o que estava a acontecer e disse-me, apontando para uma folha “por favor assine aqui e vem pagar depois”. Fui embora. O caminho até ao carro ainda daria para respirar fundo e relaxar um pouco- pensava eu… Cheguei ao primeiro semáforo assim que ficou vermelho para os peões. Foi então que começou o meu filme tipo “miss t-shirt molhada”. Ora eu ia de blusa branca mesmo fininha e eis que cai uma chuvada daquelas. Imaginam como fiquei, mas nem atrás, nem à frente havia um abrigo rápido. Ficou verde e segui o meu caminho sem sequer tentar correr, estava de saltos altos e não queria ter mais um episódio para compor o leque de coisas estranhas do dia. Cheguei ao carro encharcada, depois de ouvir umas buzinadelas e segui para ir buscar a carteira- estava tudo no sítio, até as notas de pesos, dólares e escudos. “Ainda há pessoas sérias”, pensei. Claro que há!
E há dias em que muito parece correr ao contrário, as contrariedades surgem e a forma como as encaramos e deixamos que influenciem o nosso humor, é determinante para o seu desfecho… Tal como escrevi ontem, no meu último post do dia, faz sentido focarmo-nos nas soluções, não nos problemas!
Acredito naquela teoria que muitos livros têm desenvolvido, que o nosso pensamento, a nossa energia, determinam a energia do que chega a nós. Pelo menos muda a perspectiva e logo a nossa serenidade e o nosso humor. Quantas vezes contamos mil vezes o mesmo acontecimento dramático e esquecemos o outro, que teve lugar no mesmo dia e que foi bom? E se nos focarmos no mau, teremos sempre mais episódios assim para contar, porque num dia óptimo, há sempre algo que corre menos bem. Mesmo que não seja maravilhoso, faz sentido valorizar o BOM. Mais sentido ainda faz relativizar, o que tem solução deve servir apenas como lição e não como motivo de tristeza extrema ou vitimização. Temos a força que quisermos, e teremos tanto mais, quanto mais energia boa deixarmos viver na nossa vida!

Todos temos contrariedades. Todos acordamos, às vezes, com vontade de barafustar com o mundo, ou de não ver ninguém, sobretudo de não ter que dizer bom dia, ou ser simpático contrariado. A vontade é que nos deixem em paz, no nosso mundo, com o nosso silêncio, a fazer o que nos apetece: nada.
Devia haver um atestado próprio que permitisse realmente isolarmo-nos, nesses dias. Algo real, fidedigno, que medisse a nossa capacidade para nos relacionarmos com os outros, em cada novo dia, ou seja, o nosso humor. Amarelo: vai mudar, é só esperar umas horinhas enquanto desperta; verde: vamos lá, bola para a frente, toca a dar amor – sim, porque há várias formas de dar amor e podemos fazê-lo diariamente no contacto simples com os outros -; vermelho: que medo, o melhor é mesmo ficar em casa!
Acho que esses dias são contra-producentes e pouco podem trazer de bom. Felizmente, na maior parte das pessoas, são raros. Ainda assim, acontecem e ninguém merece levar com o nosso mau humor.
Mas isto de avaliar humores é válido apenas num mundo imaginário. Na verdade, vamos trabalhar e conviver com outras pessoas, nem que caia a maior tempestade sobre nós e o nosso mundo desabe. Então, faz sentido encontrar técnicas para serenar e seguir, o melhor possível.
Eu tenho a minha técnica: quando acordo assim, sento-me na cama a olhar pela janela, logo a seguir caminho até à cozinha, bebo água calmamente e volto a deitar-me sobre os lençóis. Então, procuro concentrar-me e ver apenas a parte maravilhosa da minha vida: um trabalho que amo, em que tenho oportunidade de me dar a cada pessoa individualmente e receber dela algo único – a confiança -, numa forma de troca de amor; a força para ultrapassar obstáculos, a energia para caminhar até à clínica e o poder de despertar sorrisos, por exemplo. Sim, porque a nossa energia muda muita coisa! Então, a gratidão que me invade é tão grande, que só consigo expressar-me em alta voz ao Universo. Pode parecer estranho, mas estes minutos mudam o meu dia.
Outras vezes, ainda que acordemos muito bem dispostos, há acontecimentos que parecem querer nublar o nosso dia, torná-lo denso, mudar o nosso humor. É claro que há motivos e motivos, mas quantas vezes o deixamos estragar com pormenores que deviam ser efémeros? Uma proposta de trabalho que não foi aceite, uma resposta torta do namorado, uma ida de um familiar ao centro de saúde. Sim, todos são motivos que mexem com o nosso equilibro. Mas,  será justo permitirmos que estraguem o nosso dia e nos façam passá-lo ansiosos e sem vontade de fazer seja o que for? Pensemos nos motivos pequenos e relativizemos: se a proposta não foi aceite, outras surgirão – se lutámos e não conseguimos, é porque “não era para ser”, provavelmente não seria o melhor para nós-; se alguém que amamos nos reponde mal, deixemos que essa pessoa caia nela, oferecendo-lhe o nosso silêncio e serenando – adiantará discutir ou entupir-lhe o telemóvel com mensagens?
Nesses momentos, fecho-me durante uns minutos no consultório e reponho a minha ordem mental, primeiro porque ninguém merece levar com o meu mau humor e depois porque eu própria não mereço perder tempo sofrendo em vão.
Hoje aconteceu-me uma dessas situações: tentaram estragar o meu dia e a reacção, nesses minutos de retiro no consultório, foi olhar-me ao espelho, fazer caretas, relativizar, respirar fundo, relaxar e… Seguir, amando cada momento e cada pessoa! O que pensei enquanto a minha cara teimava ficar carrancuda, foi: tens 5 minutos para voltar a ser feliz!