Todos temos contrariedades. Todos acordamos, às vezes, com vontade de barafustar com o mundo, ou de não ver ninguém, sobretudo de não ter que dizer bom dia, ou ser simpático contrariado. A vontade é que nos deixem em paz, no nosso mundo, com o nosso silêncio, a fazer o que nos apetece: nada.
Devia haver um atestado próprio que permitisse realmente isolarmo-nos, nesses dias. Algo real, fidedigno, que medisse a nossa capacidade para nos relacionarmos com os outros, em cada novo dia, ou seja, o nosso humor. Amarelo: vai mudar, é só esperar umas horinhas enquanto desperta; verde: vamos lá, bola para a frente, toca a dar amor – sim, porque há várias formas de dar amor e podemos fazê-lo diariamente no contacto simples com os outros -; vermelho: que medo, o melhor é mesmo ficar em casa!
Acho que esses dias são contra-producentes e pouco podem trazer de bom. Felizmente, na maior parte das pessoas, são raros. Ainda assim, acontecem e ninguém merece levar com o nosso mau humor.
Mas isto de avaliar humores é válido apenas num mundo imaginário. Na verdade, vamos trabalhar e conviver com outras pessoas, nem que caia a maior tempestade sobre nós e o nosso mundo desabe. Então, faz sentido encontrar técnicas para serenar e seguir, o melhor possível.
Eu tenho a minha técnica: quando acordo assim, sento-me na cama a olhar pela janela, logo a seguir caminho até à cozinha, bebo água calmamente e volto a deitar-me sobre os lençóis. Então, procuro concentrar-me e ver apenas a parte maravilhosa da minha vida: um trabalho que amo, em que tenho oportunidade de me dar a cada pessoa individualmente e receber dela algo único – a confiança -, numa forma de troca de amor; a força para ultrapassar obstáculos, a energia para caminhar até à clínica e o poder de despertar sorrisos, por exemplo. Sim, porque a nossa energia muda muita coisa! Então, a gratidão que me invade é tão grande, que só consigo expressar-me em alta voz ao Universo. Pode parecer estranho, mas estes minutos mudam o meu dia.
Outras vezes, ainda que acordemos muito bem dispostos, há acontecimentos que parecem querer nublar o nosso dia, torná-lo denso, mudar o nosso humor. É claro que há motivos e motivos, mas quantas vezes o deixamos estragar com pormenores que deviam ser efémeros? Uma proposta de trabalho que não foi aceite, uma resposta torta do namorado, uma ida de um familiar ao centro de saúde. Sim, todos são motivos que mexem com o nosso equilibro. Mas,  será justo permitirmos que estraguem o nosso dia e nos façam passá-lo ansiosos e sem vontade de fazer seja o que for? Pensemos nos motivos pequenos e relativizemos: se a proposta não foi aceite, outras surgirão – se lutámos e não conseguimos, é porque “não era para ser”, provavelmente não seria o melhor para nós-; se alguém que amamos nos reponde mal, deixemos que essa pessoa caia nela, oferecendo-lhe o nosso silêncio e serenando – adiantará discutir ou entupir-lhe o telemóvel com mensagens?
Nesses momentos, fecho-me durante uns minutos no consultório e reponho a minha ordem mental, primeiro porque ninguém merece levar com o meu mau humor e depois porque eu própria não mereço perder tempo sofrendo em vão.
Hoje aconteceu-me uma dessas situações: tentaram estragar o meu dia e a reacção, nesses minutos de retiro no consultório, foi olhar-me ao espelho, fazer caretas, relativizar, respirar fundo, relaxar e… Seguir, amando cada momento e cada pessoa! O que pensei enquanto a minha cara teimava ficar carrancuda, foi: tens 5 minutos para voltar a ser feliz!

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Nutricionista: amante do tipo de cozinha que procura aliar saúde aos melhores sabores; Mulher: apaixonada pela verdadeira beleza das coisas mais simples; Objectivo: ser feliz na medida do possível, gostar de mim todos os dias e ajudar quem me segue, nesse mesmo caminho.

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