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Quando era miúda, ouvia atentamente as conversas das minhas irmãs. Sempre prestei atenção à conversa de todas as mulheres, especialmente das mais velhas. Fui sempre amiga das amigas da minha mãe e também sempre gostei de trocar mil experiências com mulheres da minha idade. E sempre gostei de observar e ouvir as mulheres mais novas. Adoro, por exemplo, ficar atenta a cada pormenor do comportamento das minhas sobrinhas.

E com isto chego a uma conclusão: – cada etapa da nossa vida é incrivelmente bela!

A diferença maior que sinto com a chegada dos 40 é algum egoísmo e um imenso amor.
Penso mais em mim, preocupo-me, antes de mais, comigo, tomo as decisões por mim. Sei que eu estou antes de todo o resto. Algum egoísmo não faz mal a ninguém, contrariamente ao que pensava aos 20. Nessa altura, não era egoísta; aos 30, combatia com ele – o egoísmo – e aos 40 assumo-o, feliz e bem resolvida. Egocentrismo é outra coisa, não é disso que falo. Não sou egocêntrica, sou, isso sim, um pouco egoísta e aconselho todas as mulheres a serem: cada uma de nós está em primeiro lugar e deve ser o centro da sua vida.
Aos 40, não pensamos se lavámos o cabelo no próprio dia, mergulhamos na piscina; não deixamos de tirar as calças num passeio inesperado no rio porque não fizemos a depilação e muito menos perdemos tempo a olhar para a celulite. Aos 40 somos mais nós, temos auto-confiança, sabemos o que valemos e quem não gostar que não olhe, quem não quiser a nossa companhia que não se chegue perto. Aos 40 deixa de nos interessar o que pensam de nós e passa a ser muito importante o que pensamos de nós mesmas. Conhecemo-nos como nunca, também porque, habitualmente, uns anos antes, tivemos uma pequena crise de identidade e mergulhámos em nós mesmas. Aos 40 não fazemos fretes, percebemos o quão precioso é o tempo que nos deram aqui.

Aos 40 tenho a espiritualidade mais em mim do que alguma vez antes e sinto, respiro, saboreio com menos ansiedade e mais certeza de estar em cada momento no sítio certo, fazendo exactamente o que é suposto fazer. Não anseio nada mais além de cada momento, vivo cada vez menos com expectativa. Não mastigo e engulo, saboreio.

Entrego-me ao divino e tenho cada vez mais consciência d’Ele em tudo o que faço. Reconheço-O nos outros, em cada pessoa, queira-me bem ou mal. Aos 40, sinto mais amor que nunca e zango-me menos comigo e com os outros, porque me aceito, me amo e aceito os outros, percebendo que são uma parte tão importante como eu desse Amor maior que é Deus!

Hoje é um dia especial para mim: faço 39 anos!
Nunca me senti tão serena, tão em paz e tão cheia de amor. Sinto muita vontade de vos dizer: ainda que estejam a viver as maiores tempestades, ainda que sintam que de alguma forma vos parece injusto, não desistam. Foquem-se na lição a aprender com cada situação e com essa aprendizagem vão encontrando, a pouco e pouco, esse lugar de paz. No coração. Quantas vezes senti um aperto no peito que não sabia de onde vinha? Era escutar-me que faltava, voltar à minha espiritualidade e reencontrar o sentir com o coração antes de racionalizar com a mente. Estou no meu processo, mas digo-vos, se há melhor do que o que sinto agora, então a felicidade pode crescer até ao infinito. Quando se vive em amor, em verdadeiro amor, as prioridades mudam e o foco é cada vez mais nEle: bendito Amor. Grata Paramahamsa Vishwananda .

E vocês, estão em busca do vosso caminho? Posso ajudar?

36 anos. Não é uma data redonda. Mas é uma data minha. E todas as datas que são nossas significam muito para nós. Nestes 36 anos, ficam memórias de gostar.

Gosto de chegar a casa, falar mais uma vez com alguém que amo, fazer o último post do dia e desligar o telemóvel. Gosto de ficar só, ainda que por instantes – é neles que relativizo tudo, dentro e fora. A casa fica mais cheia, mesmo que eu continue só – e tantas vezes continuo. Silêncio vestido de paz. Revivo os sorrisos e falares que me tocaram, nesse dia, guardo-os na retina e tatuo-os na memória. Revejo tudo e tudo apazigua. Sei que dei o meu melhor. Mais tarde, depois de saber o que se passa no mundo à volta do meu, leio, combato o primeiro sono e depois perco-me nele. Gosto desta rotina, da minha rotina. Sou eu, nela. Reencontro-me a cada dia.

 

Gosto de tirar da carteira da minha mãe os lenços que usa para limpar o cantinho dos olhos, as pequeninas lágrimas dos pós, do pólen e do excesso de luz. Os seus olhos são feitos de amêndoas que bailam com um esverdeado sensível. Às vezes os lencinhos – ou pedaços deles – vêm pintalgados de batom vermelho. O dela, da minha Mãe. E cheiram a ela. Ponho-os no bolsinho da minha carteira e guardo por uns dias. O cheirinho à minha Mãe fica comigo, gosto dele. Preenche-me os dias nos afectos. Os meus não vivem “só” de toques e imagens… Preciso dos cheiros!

 

Gosto dos raios de luz a entrar pelas frinchas minúsculas do estore da janela do meu quarto. Gosto de saber que vou encontrar o verde do parque da cidade e o azul do mar, quando o abrir. Que assim que chegue ao corredor vou ver o Mel e o Cacau esperando-me, amando-me com o olhar, sedentos de carícias e loucos de fome. Gosto daquela indecisão entre o passar dos meus dedos pelo seu pêlo macio e a vontade de irem devorar a comida que acabei de lhes servir. Adoro quando escolhem dar-me turrinhas nas pernas, mas também fico deliciada quando os ouço trincar energicamente. Abre-me o apetite. 

 

Adoro o meu pequeno-almoço – demoro uns trinta minutos na cozinha, todas as manhãs. Prepará-lo é rápido, mas provar cada colher ou cada garfada, contemplando a vista linda do 15º andar em que moro, é uma benção divina. E as bênçãos divinas são inegáveis e é pecado não as receber por inteiro. Não é? Pois o meu pequeno-almoço não pode demorar menos de trinta minutos porque é uma bênção divina. Compõe-se de tempo que passo sem a culpa de deixar passar o tempo. Não há pressa nem há o depois, apenas o “agora”. Às colheradas e garfadas, seguem-se momentos que nunca partilho. Abro a janela e tomo o meu café sentindo o seu cheiro e o do dia, não interessa se faz frio ou se chove. – Eu disse que sou de cheiros. – Esse momento é mágico e aproveito-o até ao último segundo, à última gota, ao último bafejar do sol ou gelar do vento na minha cara. Sei que voltarei a sentir a mesma paz envolta em silêncio e ar puro, apenas no final do dia. Inspiro e guardo-a comigo. A paz.

Debato-me com ele, o café. Não por achar que me faz mal, mas porque mancha os dentes. Queria ter os dentes mais brancos. Mas não tanto como quero continuar a usufruir do minuto em que tomo café na minha janela. Não se fala mais nisso – o café fica.

 

Gosto de pão com queijo e de chocolate. Vivia só deles, se não tivesse consciência de quantos nutrientes me faltariam. 

Gosto de comida simples, um prato de feijão e couves da minha avó regado com azeite da aldeia preenche-me os desejos. Gosto de molhar o pão no azeite e mais ainda de mergulhar no azeite parmesão ralado. E depois o pão, embebido nesta mistura tão cheia de gordura como causadora de prazer. Viveria mesmo assim… Mas não gostaria da consciência pesada pela falta de equilíbrio reflectida no corpo e na qualidade dos meus dias. 

Gosto mais da energia que me dão os meus alimentos, os que escolho, consciente e ponderada. Não podemos ceder a todas as tentações. Também sou feliz com eles, mais do que se me permitisse comer apenas pão com queijo e chocolate. Ou feijões com couves. Ou molho de azeite com parmesão, no pão. A minha comida, feliz, preenche os meus dias.

 

Gosto dele. Encanta-me. 

Admiro a sua força, a sua sabedoria e sensibilidade. Raras.

Faz-me bem. Sorrio com ele.

Dou-lhe a mão e cresço com ele. E é bom.

 

Gosto mais de campo do que de mar. Gosto de voltar à aldeia e de lhe dar voltas, de a correr de lés a lés. Às vezes ainda me perco nesses caminhos que devia conhecer de olhos fechados. Parece que se transformam, sofrem metamorfoses entre o casulo fechado e as asas de borboleta, conforme as estações.

Gosto de comer pão de centeio cortado em fatias generosas, com geleia de marmelos apanhados pela D. Rita. Volto sempre ao pão! E gosto do sorriso dela, das mãos ásperas e do cabelo branco. De lhe mergulhar na sabedoria dos olhos envelhecidos. É linda!

 

Gosto do meu Clã. As minhas amigas são as mesmas de sempre. Caminhamos juntas desde a infância e há uma – a Kiki – que conheço desde o dia em que nasci. Sabem quem é a Kiki? É o ser maravilhoso que dá forma às receitas da Cozinha Nutrição com ♥️. 

Sempre me disseram que só sou verdadeiramente feliz quando junto os Meus… Acho que é isso que tenho feito ao longo da vida. Não sei se será um acto de egoísmo, mas tenho o meu Clã cada vez mais perto de mim, cada vez fazendo mais parte dos meus dias, não “apenas” pela ligação de corações, mas também pelo olhar e pelo toque. 

Quanto aos homens, os amigos, tenho dois. Não vêm da infância mas fazem parte de mim da mesma forma pura. Nenhum é mais importante que o outro, todos os amigos ocupam lugares diferentes e tenho a sensação que se algum desaparecesse perderia com ele um pedacinho do meu respirar, do meu bater do coração.

 

Gosto de pessoas puras. Tolero o egoísmo mas não o egocentrismo. Acho que todos temos que ser egoístas às vezes, procurar formas de estar bem connosco antes de todo o resto. Só então teremos o suficiente – e verdadeiramente bom – para dar aos outros. 

 

Gosto de olhar para o Céu e falar com o meu Pedro, com o Avô Zé e com a Fabíola. De saber que não se foram eternamente, que vivemos num “até já” constante. Ainda pego no telefone para lhes contar aquelas novidades inesperadas que me deixam a saltitar. Gosto de os sentir presentes. Gosto… Tanto!

 

Gosto de ler o meu Pai… Na tinta que a sua caneta imprime no papel, mas sobretudo nos gestos, nos olhares, no que não diz. Quando algo corre mal fecho os olhos e lembro o seu braço fazendo-me de baloiço no caminho do colégio para casa. Vivo nesse vai-vem uma sensação de protecção e segurança que me alimenta a alma. Gosto de sentir o seu amor, calado mas gritando lá dentro! Eu ouço-o bem.

 

Gosto de orar. Preciso. Acalma-me, serena-me, pacifica-me. Gosto da crença num Deus de bondade e amor puro, que na verdade somos todos nós.

Gosto de me abandonar ao silêncio e meditar. Gosto do que me preenche sem ter forma, sem o ver.

 

Admiro a sabedoria. Mais do que conhecimento, de saber como aplicá-lo. O conhecimento pode perder-se, a sabedoria nunca é esquecida. Gosto de pessoas sábias, gosto do que sabem ensinar.

 

Não gosto de vozes interiores que tornam as pessoas vítimas. Não gosto de saber que há quem as ouça. Gosto de quem sabe esculpir a sua vida, de quem não perde tempo precioso apenas esperando. Gosto de quem “faz acontecer”, de quem age. Gosto de quem sabe que tem o poder para criar tudo aquilo de que precisa e não vive ligado a um jogo de compensações que torna a sua vida uma teia de causa-efeito. Gosto de quem acredita na imensa força que guarda dentro e a usa, para ser feliz.

Gosto de pessoas que se erguem e das que acreditam que se pode tirar algo de bom de qualquer coisa. E gostava que todos soubessem que todos conseguimos. 

Gosto do entusiasmo e da paixão pela vida! 

 

Gosto de pormenores, do que é simples.

Gosto de tantas pessoas e de tantas pequenas coisas. Mas, acima de tudo, gosto de assumir as rédeas da minha vida e de não responsabilizar ninguém pelo que me faz chorar. 

 

Gosto de mim, sim – e, tal como intitulei o meu último livro, – faço-o todos os dias!