As dores menstruais são muito comuns entre as mulheres e, em cerca de 15%, chegam a ser tão fortes que impedem a rotina diária normal. O que as causa? Qual o motivo que faz com que algumas mulheres sintam mais desconforto nessa altura do mês?

            O que se sabe é que durante o ciclo mensal existe uma comunicação hormonal  constante entre o útero, os ovários e o sistema nervoso central (hipófise), para preparar o corpo para o acaso de ser fecundado. Durante o mês, a produção de estrogénios pelos folículos, nos ovários, estimula o crescimento e a irrigação sanguínea da parede do útero, como forma de preparação para a implantação do óvulo fecundado. As membranas destas células contêm, entre outras substâncias, prostaglandinas (PG’s), que são pró-inflamatórias, também responsáveis pela sensação de dor, vasoconstrição e contracções musculares. Na semana pré-menstrual a linhagem de células da parede uterina reforça a sua produção em PG’s. No caso de não haver fecundação, os níveis de progesterona e estrogénios baixam drasticamente, fazendo com que a parede uterina se desagregue e as células libertem todo o seu conteúdo em PG’s que, localmente, provocam a contracção dos músculos uterinos (cólicas menstruais), a dor e a sensação de inflamação, e a nível sistémico causam sensação de náuseas, vómitos, dores de cabeça e diarreia. Os níveis e as variações hormonais ao longo do mês são muito diferentes de mulher para mulher, desencadeando sintomas com diferentes intensidades. Consegue assim perceber-se porque motivo a aspirina e os anti-inflamatórios resolvem tão bem estes sintomas, certo? Inibem a acção das PG’s!

            Como pode, afinal, a alimentação ajudar na regulação das dores menstruais? É fácil, através não tanto da modulação dos níveis de prostaglandinas, mas sim dos estrogénios que estimulam a sua produção… A quantidade de estrogénios em circulação sanguínea vai sendo ajustado, ao longo do mês. Alguns estudos mostram que uma alimentação rica em fibras(hortícolas como abóbora, cenoura, nabo, couve galega, espinafre, agrião, cebola, alho; leguminosas, frutas e sementes, nomeadamente feijão, grão, soja, ameixa, laranja, e sementes de linhaça) e pobre em gorduras saturadas (provenientes das carnes e derivados, lacticínios gordos e alimentos processados) e açúcares (existentes também em muitos dos produtos processados como bolachas e biscoitos, refeições pré-preparadas, também refrigerantes e bebidas açucaradas, produtos de pastelaria e confeitaria…) está relacionada com níveis mais baixos de estrogénios e menos e mais fracos sintomas menstruais. Níveis baixos de estrogénios também estão relacionados com menor risco de cancro de mama. Ao consumir poucas gorduras e muitos hortofrutícolas no fundo até se está a provocar um duplo efeito no organismo, pois a gordura é a matéria prima necessária à produção de estrogénios, e a riqueza em fibra ajuda a “sequestrar” uma boa parte dos estrogénios que foram enviados pelo fígado para o intestino através das vias biliares, eliminando-os pelas fezes. Quanto melhor funcionar este circuito (comunicação) entre o fígado e o intestino, melhor se efectuará a regulação dos estrogénios. Os produtos de origem animal não contêm fibra, pelo que, se uma mulher baseia a sua alimentação nestes produtos não vai conseguir provavelmente atingir as quantidades diárias recomendadas de fibra e pode até desequilibrar o funcionamento da microbiota intestinal. Os estrogénios, em vez de eliminados, são reciclados e voltam à circulação sanguínea.

Assim, fará sentido ter a preocupação de ter um bom aporte de legumes, leguminosas, hortaliças, cereais e derivados integrais e fruta fresca. Reforçar o consumo de peixes gordos (sardinha, atum, salmão) e frutos oleaginosos (noz, amêndoa e avelã, sempre com pele) e diminuir o consumo de produtos lácteos e carnes (mesmo que sejam das variantes magras).

            Durante o período menstrual, os sintomas podem ser agravados pelo consumo de cafeína e de bebidas alcoólicas pelo que, se é daquelas mulheres que sofre muito nessa altura, deve mesmo excluí-los. O açúcar é um forte indutor de estados inflamatórios e o excesso de sal pode contribuir para a retenção de líquidos e sensação de inchaço, pelo que deve também ter o cuidado de os manter longe.

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Nutricionista: amante do tipo de cozinha que procura aliar saúde aos melhores sabores; Mulher: apaixonada pela verdadeira beleza das coisas mais simples; Objectivo: ser feliz na medida do possível, gostar de mim todos os dias e ajudar quem me segue, nesse mesmo caminho.

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