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hidratos de carbono

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Ontem escrevi um artigo sobre este tema no JN (pode ver aqui), com o título: “Teor de hidratos de carbono nas dietas de perda de peso.” Parece-me boa ideia desenvolver mais esta questão, sobretudo após o estudo que foi publicado.

Saiu ontem um artigo na conceituada revista Lancet Public Health, onde se concluiu que as dietas com baixo teor de hidratos de carbono (inferior a 40% do total de calorias ingeridas por dia) aumentam o risco de mortalidade. Nesta publicação relata-se que mais de 15 mil pessoas foram estudadas ao longo de 25 anos, e que a sua alimentação foi avaliada em vários momentos ao longo deste tempo. Os principais resultados mostram que as pessoas que mais consumiam dietas pobres em hidratos de carbono eram homens, jovens, licenciados, de um elevado nível socioeconómico, com índice de massa corporal elevado, pouco activos fisicamente e paralelamente com um consumo maior de proteína e gordura provenientes de alimentos de origem animal do que vegetal.
Ainda que estas dietas possam oferecer, a curto prazo, resultados promissores em termos de perda de peso e risco cardiometabólico, a médio e principalmente a longo prazo estes resultados dissipam-se e podem até mesmo tornar-se prejudiciais. De facto, os resultados mostram mesmo que ao fim de 3 e 6 anos de acompanhamento, o índice de massa corporal destes participantes não mudou significativamente.
O que é um teor de hidratos de carbono “seguro” em termos de risco de mortalidade? Este estudo mostra que a relação entre o consumo de hidratos de carbono e mortalidade tem a forma de um “U”, ou seja, consumos muito baixos (inferior a 40%, como descrito acima) ou muito elevados (acima de 70% do total de calorias diárias) deste nutriente reduzem a esperança média de vida em 4 anos ou 1 ano, respectivamente. O teor mais favorável de consumo ronda os 50-57% de hidratos de carbono. No entanto convém não esquecer que os hidratos de carbono não são todos iguais; separam-se em simples (glicose, frutose) e complexos (amido) e por isso não exercem todos o mesmo efeito; o estudo não aprofundou este aspeto importante pelo que não se pode tirar conclusões sobre o mesmo.
Outro aspecto importante referido no estudo é “quais os alimentos que completam a dieta em substituição dessa redução nos hidratos de carbono”? Pois bem, quando a substituição foi feita por alimentos de origem animal, observou-se um consumo maior de carne de porco, vaca, cordeiro, frango e de queijo, bem como uma menor ingestão de hortícolas e fruta fresca; quando a substituição foi feita por alimentos de origem vegetal, observou-se um consumo maior de nozes, manteiga de amendoim, pão escuro e/ou de cereais, chocolate negro e pão branco, sendo menor no que respeita a fruta fresca, mantendo-se um bom consumo de hortícolas. A análise destas alternativas alimentares de substituição dos hidratos de carbono permitiu verificar que o risco de mortalidade é maior na alimentação de origem animal e menor na de origem vegetal. Este efeito parece dar a entender que reduzir aos hidratos de carbono e optar por alternativas de origem vegetal garante um maior aporte de gorduras insaturadas e menor de gorduras saturadas do que priviligiar as de origem animal e isto sim contribui para a redução do risco de mortalidade.
Em resumo, parece que reduzir os hidratos de carbono à dieta tem bons efeitos a curto prazo na perda de peso. A longo prazo estes efeitos desaparecem e podem até mesmo contribuir negativamente para a esperança média de vida. Por outro lado, quando esta redução é acompanhada por um aumento na ingestão de alimentos de origem vegetal, de preferência ricos em gorduras ómega-3, esta dieta já reduz o risco de mortalidade.

O estudo publicado ontem na Revista científica e altamente conceituada The Lancet revela algo que dará que falar. Assim, faz sentido deixar sobre o tema breves considerações.

A conclusão foi que as pessoas que consumiram mais hidratos de carbono e menos gorduras tinham um maior risco de mortalidade, mesmo quando avaliada a ingestão de gorduras saturadas. O estudo não encontrou associação com a mortalidade cardiovascular ou com o risco do seu desenvolvimento. Resumindo, parece que o consumo de gorduras saturadas não está relacionado com a saúde cardiovascular ou com a mortalidade por esta.

No entanto, estes resultados têm de ser interpretados com cautela, por vários motivos. Este tipo de estudos epidemiológicos, em grandes amostras populacionais, não permitem detectar relações de causa-efeito, ou seja, não se pode por aqui concluir que é efectivamente este tipo de alimentação que causa a doença ou a mortalidade associada. O que se consegue verificar é apenas que existe uma relação entre estas variáveis. Por outro lado, convém também salientar que os consumos de hidratos de carbono mais elevados são superiores a 60% do valor energetico total diário e que o consumo de gordura mais baixo se refere a uma percentagem inferior a 30%. Ambos os valores estão fora dos limites recomendados actualmente e mesmo as gorduras saturadas são necessárias ao funcionamento normal do organismo, bem como os açúcares e os hidratos de carbono. Por fim, é de salientar que os dados referentes à ingestão alimentar foram obtidos através de questionários realizados aos participantes, o que pode desencadear um viés de resposta, muitas vezes pela tendência para responder de forma não totalmente fiel à descrição do consumo real, quer por eventuais lapsos de memória ou mesmo omissão por constrangimento.

Noutra publicação feita a partir dos mesmos dados estatísticos, a equipa de investigadores concluiu que o consumo de 375-500g de fruta e hortícolas diariamente diminui este risco de mortalidade total e não cardiovascular, reforçando também aquilo que já são as recomendações da Organização Mundial de Saúde: 3-4 porções diárias.

 

Artigo original, em: http://lifestyle.publico.pt/noticias/376764_estudo-revela-que-consumo-de-hidratos-de-carbono-e-pior-para-a-saude-do-que-gordura

Na gastronomia portuguesa, o prato da refeição assume um papel principal na composição do almoço e do jantar, relegando para segundo plano a sopa e a fruta, que outrora eram indispensáveis nesses momentos. 

A Organização Mundial de Saúde recomenda a ingestão de, no mínimo, e diariamente, 400g de hortofrutícolas (frutas e hortícolas), correspondente a 5 porções destes grupos alimentares. A fruta pode ser incluída em merendas. Quanto à sopa, já foi tempo de a incluir na primeira refeição do dia, costume a cair em desuso por completo e no cenário actual a realidade é a de desaparecer também das refeições principais. Não devemos permitir que tal aconteça. Eu sei que cada vez mais vivemos numa correria, numa luta contra o tempo, mas se pararmos para pensar nesta questão, será que demoramos assim tanto tempo a prepará-la? Mais, não temos que o fazer diariamente, o que facilita. Muitas vezes ouço mães dizerem que preparam a sopa dos filhos bebés, mas que tem batata e preferem não comer porque estão num processo de emagrecimento e optam por ter “os hidratos de carbono” no prato. Até aqui, tudo bem, mas, mais uma vez, será que custa pôr dois tachos ao lume e colocar apenas o que queremos no nosso?A fruta segue a mesma tendência, de desaparecer nas refeições principais, mas, estando a ser incluída nas refeições intermédias, da manhã e da tarde, tal não me parece preocupante.

Então, qual será a composição “ideal” das refeições principais? A resposta é: primeiro a sopa, seguida do prato.

Assumindo um valor médio de 2000 calorias por dia como o recomendado para um adulto médio, normalmente distribui-se cerca de um terço destas para o almoço outro tanto para o jantar, o que dá, aproximadamentecerca de 630 calorias para cada. Ao contrário do que possa parecer, não dá margem para grandes extravagâncias. Vejamos como distribuir então a refeição:

– 1 prato de sopa: 120 calorias (1 porção de hortícolas cozinhados (140g); 1 batata pequena (80g) e 5ml de azeite)

– prato principal: 450 calorias (1 porção de hortícolas cozinhados (140g); 2 batatas pequenas (160g) ou 6 colheres de sopa rasas de arroz ou massa; 100g de carne ou pescado magros; 15ml de azeite para confeção e tempero)

– uma peça de fruta: 60 calorias

Não quer ter de pesar os vários componentes do prato? Não precisa! Estas quantidades dão aproximadamente metade do prato para os hortícolas, um quarto para a carne/pescado e um quarto para os cereais, derivados e tubérculos.

Repetindo este modelo ao almoço e jantar, ficam as porções de hortofrutícolas e alimentos proteicos quase garantidos. Dois ou três pequenos snacks ao longo do dia, para além de um pequeno-almoço completo, e as recomendações estão cumpridas. Lembre-se que mais importante do que a quantidade é a variedade e a qualidade!

É verdade que o nosso metabolismo baixa para níveis residuais durante o sono, por isso parece que comer muito próximo da hora de ir dormir poderá levar a uma maior acumulação de reservas; no caso de um desportista é excelente, tal como num desnutrido que precisa de recuperar a sua composição corporal. Se tem como objectivo emagrecer, não me parece desapropriado reduzir a quantidade de hidratos de carbono ao jantar, desde que, mais uma vez, tenha um contexto alimentar completo, variado e equilibrado e os inclua no seu dia.

(Imagem retirada de https://goo.gl/images/05MyP4)