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Qual costumam utilizar: azeite ou óleo?
Afinal, qual devemos escolher para as nossas receitas?
O azeite resiste às temperaturas utilizadas nos vários tipos de confecção e apresenta a melhor proporção das gorduras que o constituí.
Já os óleos são muito diferentes, sendo que alguns resistem bem ao calor, como o  óleo de amendoim e outros nem tanto, como o óleo de coco. Também em termos de proporção de gorduras os óleos não são iguais: os mais interessantes são o de amendoim e girassol e os menos interessantes o de coco, palma e a mistura de óleos (o chamado “óleo alimentar”).
Podem encontrar várias opções destes alimentos, AQUI.
Este é o segundo post da rubrica “Isto ou Aquilo”.
Eis a questão: nozes ou manteiga 100% amendoim?

Ambas são boas opções dado o elevado teor em gorduras insaturadas, fibras, vitaminas do complexo B e alguns minerais. As nozes têm um teor mais elevado de gordura ómega-3 do que ómega-6 e por isso são mais interessantes. Para ambos é necessária cautela sobre a quantidade a ingerir (cerca 30g por dia) uma vez que possuem elevado valor calórico.

Antes de mais, o que são?

O óleo de palma é um óleo extraído da polpa da fruta da palmeira. É constituído em cerca de 50% por gordura saturada, 40% gordura monoinsaturada e 10% gordura polinsaturada, líquido à temperatura ambiente.

Quando não sujeito a processos de refinação nem qualquer outra manipulação industrial, é rico em vitamina E, carotenos e fitoesteróis, todos eles importantes antioxidantes. Quando manipulado para uma mais eficaz e/ou rápida extração, perde estes compostos e altera-se a qualidade das gorduras que o compõem originalmente. Ora é este óleo de palma manipulado, hidrogenado, alterado, que é maioritariamente utilizado pela indústria alimentar!

O óleo de coco é obtido esmagando e pressionando a frio a semente seca do coco. É constituído em cerca de 90% por gordura saturada e sólido à temperatura ambiente.

 

Um pouco de química…

Apesar de serem ambos maioritariamente compostos por gordura saturada (prejudicial para a saúde cardiovascular), convém primeiro explicar que a gordura não é toda igual. Quando se fala em gordura alimentar estamos a falar de triglicerídeos. Estes compostos são formados por 1 parte de glicerol e 3 partes de gordura (ácidos gordos, que podem ser iguais ou não). A par disto temos de considerar o tamanho: ácidos gordos com 2 a 6 átomos de carbono são considerados “de cadeia curta”, 8 a 12 “de cadeia média” e com 14 ou mais “de cadeia longa”. Os ácidos gordos de cadeia curta e média não são digeridos, absorvidos nem transportados pelo corpo da mesma forma que os restantes, por isso têm uma contribuição diferente sobre o metabolismo das gorduras, no fígado. Por outro lado, as gorduras de cadeia longa já sofrem um transporte mais lento, pelas quilomicras, tendo de ser reorganizados nos vasos linfáticos e transportados para o fígado, antes de serem distribuídos para o organismo. Enquanto que os primeiros servem quase unicamente como fonte energética, estes últimos servem de base à produção de várias substâncias como o colesterol, vitamina D e algumas hormonas.

O principal ácido gordo do óleo de palma é o ácido palmítico (16 átomos de carbono): uma gordura saturada de cadeia longa. À primeira vista parece péssimo, mas quando olhamos com atenção sobre a sua bioquímica percebemos que não: o ácido palmítico solidifica à temperatura ambiente e está localizado maioritariamente nas posições exteriores dos triglicerídeos. Isto faz com que este seja o primeiro alvo das enzimas digestivas. O que lhe acontece então? É maioritariamente excretado pelas fezes sob a forma de sais de cálcio. A reduzida percentagem de ácido palmítico que se encontra na posição interior é absorvido e entra no metabolismo do colesterol onde acaba por ter um papel pouco importante, já que a maioria das gorduras do óleo de palma que contribuem para este metabolismo acabam por ser as insaturadas.

O principal ácido gordo do óleo de coco (representa cerca de metade das gorduras saturadas) é o ácido láurico (12 átomos de carbono): uma gordura “de cadeia média”, mas que se comporta como uma gordura de cadeia longa pois cerca de 75% é absorvida pelos mesmos mecanismos que esta. O óleo de coco não pode então ser comparado aos triglicerídeos de cadeia média “puros” (protetores da saúde cardiovascular), pois estes são constituídos quase exclusivamente (>94%) por ácido cáprico e caprílico (10 e 8 átomos de carbono, respetivamente), gorduras diferentes do ácido láurico em termos de absorção, estrutura e metabolismo. Quando comparado com outras gorduras saturadas, como a manteiga, óleo de palma e outras gorduras animais, o óleo de coco não apresenta vantagens que tenham evidência científica, ou seja, não há qualquer benefício em trocar estas gorduras por óleo de coco.

O limite de temperatura de cozedura que cada um aguenta faz com que não possam ter utilizações idênticas. O óleo de palma não refinado aguenta temperaturas elevadas até aos 230ºC enquanto o óleo de coco aguenta apenas temperaturas a rondar os 165ºC. Acima destas temperaturas ambos produzem compostos cancerígenos.

 

Afinal, qual o seu impacto na saúde?

EM RESUMO, o óleo de palma natural é um líquido baço e avermelhado, rico em gordura saturada, mas também em antioxidantes. A sua absorção pelo organismo não lhe confere qualquer característica maléfica para o organismo, principalmente quando consumido dentro das recomendações gerais, ou seja, em que a gordura total contribua para <30% das calorias totais da dieta. O problema hoje em dia é que este óleo, dadas as suas propriedades químicas versáteis, é utilizado numa multiplicidade de produtos alimentares e de higiene e, segundo alguns estudos, na maioria dos casos não é utilizado na sua forma original, sendo frequentemente manipulado para otimizar as suas aplicações industriais, com a consequência de, neste processo, serem produzidos outros compostos, alguns deles cancerígenos. A diminuição do consumo de produtos alimentares processados ajuda a reduzir o risco de efeitos adversos sobre a saúde, por parte do óleo de palma. Por outro lado, o óleo de coco apresenta evidências contraditórias. Os estudos feitos em comparação com manteiga, gorduras vegetais e outras gorduras animais, mostram que o óleo de coco não é melhor do que as gorduras vegetais, mas é melhor do que a manteiga e é semelhante ao óleo de palma. Vantagens adicionais encontradas em algumas populações estudadas devem-se mais ao restante estilo de vida e alimentação do que ao óleo de coco especificamente.

                A conclusão genérica, no que diz respeito à saúde cardiovascular, mantém-se: consuma pouca gordura e, desta, apenas um terço no máximo deve provir de gorduras saturadas: óleo de coco, de palma e manteiga, sejam naturais ou adicionados a alimentos processados.

O estudo publicado ontem na Revista científica e altamente conceituada The Lancet revela algo que dará que falar. Assim, faz sentido deixar sobre o tema breves considerações.

A conclusão foi que as pessoas que consumiram mais hidratos de carbono e menos gorduras tinham um maior risco de mortalidade, mesmo quando avaliada a ingestão de gorduras saturadas. O estudo não encontrou associação com a mortalidade cardiovascular ou com o risco do seu desenvolvimento. Resumindo, parece que o consumo de gorduras saturadas não está relacionado com a saúde cardiovascular ou com a mortalidade por esta.

No entanto, estes resultados têm de ser interpretados com cautela, por vários motivos. Este tipo de estudos epidemiológicos, em grandes amostras populacionais, não permitem detectar relações de causa-efeito, ou seja, não se pode por aqui concluir que é efectivamente este tipo de alimentação que causa a doença ou a mortalidade associada. O que se consegue verificar é apenas que existe uma relação entre estas variáveis. Por outro lado, convém também salientar que os consumos de hidratos de carbono mais elevados são superiores a 60% do valor energetico total diário e que o consumo de gordura mais baixo se refere a uma percentagem inferior a 30%. Ambos os valores estão fora dos limites recomendados actualmente e mesmo as gorduras saturadas são necessárias ao funcionamento normal do organismo, bem como os açúcares e os hidratos de carbono. Por fim, é de salientar que os dados referentes à ingestão alimentar foram obtidos através de questionários realizados aos participantes, o que pode desencadear um viés de resposta, muitas vezes pela tendência para responder de forma não totalmente fiel à descrição do consumo real, quer por eventuais lapsos de memória ou mesmo omissão por constrangimento.

Noutra publicação feita a partir dos mesmos dados estatísticos, a equipa de investigadores concluiu que o consumo de 375-500g de fruta e hortícolas diariamente diminui este risco de mortalidade total e não cardiovascular, reforçando também aquilo que já são as recomendações da Organização Mundial de Saúde: 3-4 porções diárias.

 

Artigo original, em: http://lifestyle.publico.pt/noticias/376764_estudo-revela-que-consumo-de-hidratos-de-carbono-e-pior-para-a-saude-do-que-gordura