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SIBO – síndrome de sobrecrescimento bacteriano

– O que é?
Tal como acontece com o intestino grosso (cólon), o intestino delgado também contém bactérias ao longo de todo o seu percurso. O duodeno contém cerca de 10^3 bacterias, o jejuno entre 10^4 e 10^5 e o íleo entre 10^7 a 10^8. Quando estes números aumentam cerca de 100x, diz-se que há um sobrecrescimento das bactérias do intestino delgado.

– Como é que estes números são mantidos?
Através das secreções ácidas do estômago, alcalinas do pâncreas e do intestino e através dos ácidos biliares. Ainda, os movimentos anterógrados de peristaltismo do intestino mantêm as bactérias do intestino grosso (10^12) no seu lugar e impedem que estas “caminhem” intestino delgado acima, alterando a sua quantidade e variedade. Ao contrário do cólon, as bactérias do intestino delgado não são de grande variedade devido ao curto período de tempo que passam no mesmo sítio, pelos motivos apresentados acima (peristaltismo e secreções) e devido ao ambiente rico em nutrientes e com algum teor de oxigénio.

– O que faz então existir este sobrecrescimento das bactérias do intestino delgado?
A dismotilidade intestinal (ou seja, a alteração da capacidade de manter as contracções rítmicas do intestino a um ritmo que impeça que as mesmas fiquem muito tempo no mesmo sítio): pode ser causada por diabetes, esclerose sistémica, medicação (como opióides e anticolinergicos), doença de Parkinson e enteropatia por radiação; ainda por alteração das secreções gástricas (por exemplo em casos de uso prolongado de medicamentos para o estômago) e intestinais (em quantidade e qualidade): ambas as condições são também típicas dos idosos. Alterações anatómicas causadas por cirurgias ao estômago/ intestino (incluindo gastrectomia, colecistectomia e apendicectomia) interferem com o efeito das secreções sobre as bactérias tipicamente presentes principalmente no duodeno e jejuno proximal, ou provocadas por estenoses, diverticulites e fístulas (p.e. doença de Crohn) também alteram o normal funcionamento do intestino bem como o metabolismo das bactérias presentes em cada porção do intestino.

– Quais são os sintomas a destacar?
Sintomas inespecíficos como perda de peso, diarreia, flatulência, eructação, distensão abdominal e dor. Os sintomas podem ser sugestivos de outras condições intestinais como doença celíaca, síndrome de intestino irritável, alguma intolerância alimentar, etc.

– Como se diagnostica?
O diagnóstico, apesar de não haver ainda uma grande consenso e uma guideline específica, pode ser feito através de testes de hidrogénio expirado (aumentado quando há fermentação exagerada dos nutrientes ao nivel do intestino delgado) ou aspiração (por endoscopia) do conteúdo intestinal (para medição em culturas bacterianas do número e tipo de bactérias que se desenvolvem)

– Há tratamento?
O primeiro passo é eliminar todo o qualquer açúcar de adição da dieta (através quer de bebidas como de comidas), bem como bebidas alcoólicas. Em segundo ponto, uma dieta restrita em fodmaps parece permitir reduzir a fermentação bacteriana e os sintomas associados. Por fim, o uso de antibióticos específicos permite reduzir a população bacteriana que está “a mais” no intestino. O uso de probióticos parece não ter nenhum impacto significativo nesta síndrome. Obviamente que um estilo de vida mais saudável que inclui a adesão a uma dieta mediterrânea e a prática de atividade física está também na base da melhoria da qualidade de vida destas pessoas.

— Notas finais: é ainda difícil proceder a um diagnóstico conclusivo. Faltam muitos estudos que permitam também definir um tratamento com eficácia significativa, que não envolva o uso de antibióticos.

 

O Canal Nutrição com Coração do Jornal de Notícias escolheu este tema e pode assistir ao vídeo completo aqui:  Como prevenir e tratar o inchaço abdominal provocado pelo SIBO (jn.pt)

Muitas vezes na minha consulta, aconselho a toma de pré e/ou probióticos… A razão? A existência de queixas frequentes no que se refere a sintomas relacionados com o funcionamento intestinal (saiba mais sobre este tema).
Os prebióticos são substâncias que servem de “alimento” às bactérias benéficas que habitam no nosso intestino. Os probióticos são produtos constituídos por essas bactérias benéficas, e que ajudam a restabelecer a flora intestinal (microbiota) quando ela está desequilibrada, ou seja, colonizada por bactérias não benéficas. A má alimentação (excesso de açúcar, gordura saturada e bebidas alcoólicas e a falta de fibras alimentares), a falta de exercício físico e o stress fazem com que a microbiota cresça de forma desequilibrada. Mas esta flora intestinal começa a ser formada desde muito cedo na vida. De facto, é desde o nascimento, o parto em si, o primeiro fator influenciador da sua constituição, logo de seguido do aleitamento materno. Daí a importância de, se possível, o parto ser pelo método natural e o aleitamento ser o mais prolongado possível, ou seja, até aos 6 meses.
As consequências de uma microbiota não saudável, no entanto, não se limitam ao funcionamento do intestino. Sabe-se agora que influenciam também a probabilidade de se desenvolver diabetes tipo 2, obesidade e problemas respiratórios, entre outros. Para uma ótima preservação da boa microbiota intestinal, além de evitar alimentos que possam causar alguma intolerância, alergia ou desregulação da sua constituição, devemos adotar bons hábitos alimentares como a ingestão de fibra (através da fruta, hortícolas, alimentos integrais, sementes e frutos oleaginosos) e água e comer de forma calma, em ambiente agradável e sossegado.
A propósito deste tema vi hoje a notícia que podem consultar na íntegra aqui.