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compulsão alimentar

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Se encararmos os momentos em que comemos algo que não planeámos como pesados e frustrantes, a probabilidade de voltarem a acontecer é maior. Não vejamos a comida – mesmo a “comida emocional “- como inimiga, ou estaremos a ver-nos como nossos inimigos, como alguém que deliberadamente se auto-flagela, consumindo comida hipercalorica ou grandes quantidades de comida saudável. Sim, a comida também nos dá prazer e deve sempre servir este seu segundo propósito (sendo o primeiro alimentar e nutrir o nosso corpo). Assim, se às vezes procurarmos esse miminho porque estamos carentes, zangados ou cansados, não sintamos culpa, pensemos antes em regressar ao caminho da alimentação consciente e saudável, logo a seguir. Que desses episódios – que devemos evitar mas muitas vezes, ainda assim, acontecem e acontecerão com todos nós (não temos super-poderes) – guardemos apenas o sabor bom e não nos castiguemos. Quanto mais o fizermos, mais entraremos nessa vibração de culpa e de mau estar, que desencadeará mais facilmente novos episódios semelhantes, porque sentimos que somos fracos e se “está perdido por cem, podemos perder por mil.” Não. Chega!

Vivamos no equilíbrio, que começa pelo respeito por nós mesmos. Sim?

(Veja um vídeo sobre o tema, clicando aqui.)

A primeira coisa que é importante distinguir é a diferença entre fome e apetite. “Fome refere-se a uma necessidade fisiológica de ingerir alimento, ou seja, o corpo está com falta de combustível para cumprir as suas funções mais básicas e então dá alerta. Há muitos mecanismos de alerta e de controlo da fome, desenvolvidos pelo ser humano ao longo de milhares de anos. “Apetite“, por sua vez, é a vontade de ingerir alimentos, mesmo que não haja uma necessidade real do corpo. O apetite normalmente está direccionado para um ou mais alimentos específico(s) e responde a estímulos internos ou externos, como as emoções (estado de humor, stress, fadiga), o clima, um determinado acontecimento social, familiar e/ou profissional.

É este apetite que nos pode levar a compulsão alimentar.

Outro aspeto importante a referir é que há genericamente dois tipos de pessoas: os “comedores intuitivos” e os “comedores racionais”. Os primeiros respondem de forma quase exclusiva àquilo que o “corpo pede”; não importa se é fome ou apenas apetite, de cada vez que o corpo emite estímulos para ingerir alimento, estas pessoas procuram-no. Já os “comedores racionais” racionalizam os sintomas de fome e apetite, conjugam isso com as aprendizagens e conhecimentos que têm sobre alimentação saudável e só depois decidem se vão ou não ingerir alimentos, quais as escolhas que farão e como o vão fazer.

Ora está claro que o primeiro grupo de pessoas é o que está mais sujeito a episódios de compulsão alimentar. Mas o que despoleta estes episódios? E o que devemos fazer quando acontecem?

A alimentação não se limita a ser apenas uma forma de ingerir nutrientes. É muito mais do que isso: é um acto social, uma forma de convívio, é uma fonte de prazer e de satisfação para os nossos sentidos e pode ser também uma forma de alívio e conforto para as nossas emoções. É, então, fácil perceber que a ingestão de alimentos é influenciada por muitos fatcores, muito mais direccionados para o “apetite” do que para a “fome”. Factores individuais como a capacidade de gestão de stress e conflitos, a capacidade de regulação emocional e o significado emocional atribuído à comida – que vai sendo adquirido ao longo dos anos e começa desde cedo na infância -, são aspectos que vão ditar a nossa gestão alimentar.

Quantos de nós já devoraram um pacote de bolachas ou uma tablete de chocolate enquanto estamos a preparar para um exame/teste, ou parou na confeitaria a caminho de casa em busca de consolo por um dia mau ou ofereceu um doce para animar a neta triste? A comida conforta e este efeito reconfortante está presente em quase todas as fases da vida e em todas as culturas. A fome começa então a surgir quando determinada situação se apresenta e o que comanda o comportamento de ingestão alimentar são as emoções e não as necessidades nutricionais – trata-se de fome emocional. Isto chama-se de fome emocional. Esta fome relaciona-se fortemente a factores psicológicos, podendo constituir uma estratégia para lidar com o cansaço ou o stress, uma forma de ataque ao próprio corpo ou um mecanismo de compensação face a emoções negativas. Para isto escolhem-se alimentos doces e de alto valor energético por serem os que mais agradáveis são para as nossas papilas gustativas e por isso as que geram mais intensamente um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer: a dopamina.

O que fazer?

1. identificar as emoções que geram os episódios de fome emocional e tentar separar a componente física real (fome) da emocional;

2. arranjar um hobbie ou uma atividade física que dê prazer e que lhe dê uma boa dose diária de dopamina;

3. tornar a alimentação mais regular: definir um horário fixo de refeições, planificar a sua alimentação, antecipar possível dificuldades ou problemas e assumi-los;

4. pensar mais sobre aquilo que está a comer, faça um diário alimentar se for necessário;

5. acima de tudo, não atribuir um valor simbólico à comida, usando-a como recompensa ou castigo, substituto de carinho ou conforto: as necessidades emocionais satisfazem-se com sentimentos!