O “café turbinado” é mais uma invenção que está na moda.

☕ O que é, afinal?

☕ Quais os pressupostos associados?

☕ O seu uso faz sentido?

 

O “café turbinado” é mais uma invenção que está na moda. O que é, afinal? É uma mistura de café com uma fonte de gordura, a maior parte das vezes óleo de coco. A teoria por trás desta conjugação de alimentos é a de que a gordura torna a absorção de cafeína mais lenta, prolongando assim os seus efeitos. Ou seja, dito por outras palavras, a sensação de energia provocada pela cafeína é sentida durante mais tempo. A somar a este efeito, tem-se o efeito saciante da gordura, neste caso, o óleo de coco, o que implica que a pessoa aguenta mais horas sem ter vontade de comer. Estes são os princípios em que os seguidores desta mistura creem.

Podíamos fazer aqui uma pequena resenha histórica, alegando que esta mistura foi criada por um empresário, numa das suas muitas viagens, uma delas pelo Tibete. Ali, o hábito de oferecer chá de manteiga aos viajantes tem o propósito de lhes dar uma bebida quente e energética para o árduo caminho que têm pela frente. Ora como empresário que é, Dave Asprey, criou a sua própria variante, juntando os efeitos benéficos do café, com os da gordura da moda, o óleo de coco (há quem faça esta mistura com óleo de coco e manteiga, ou com MCT e manteiga). Inclusivamente, Dave Asprey criou uma marca própria com esta mistura de gorduras com café, alegadamente mais puros e isentos de manipulação artificial e/ou industrial.

Na verdade, nada disto foi provado até ao momento. Ao fazer uma breve pesquisa sobre esta opção alimentar, a verdade é que não se encontra um único estudo científico publicado em nenhuma das bases de dados de artigos científicos existentes, que prove ou refute qualquer uma das alegações que é feita, por isso vamos apenas aos factos que são conhecidos.

Quais são, então, os objetivos de usar esta mistura alimentar? No meu entender vejo apenas um objetivo possível:

A “moda” da fuga aos hidratos de carbono como fonte energética e incentivo a uma espécie de jejum intermitente

Mas esta abordagem peca por vários defeitos:

1- ingerir gordura não parece atrasar a absorção da cafeína, pois a cafeína é hidrossolúvel e tem uma biodisponibilidade de 99-100%, ou seja, é totalmente aproveitada pelo organismo entre 15 e 45 minutos após a sua ingestão;

2- a duração dos efeitos da cafeína (3 a 5 horas) não é influenciada pela ingestão de alimentos, mas sim por outros factores, como a genética, problemas renais ou hepáticos, ou hábitos tabágicos; ou seja, a sensação prolongada de energia e ausência de apetite relaciona-se com os corpos cetónicos resultantes do metabolismo das gorduras;

3- o óleo de coco é rico em gordura de cadeia média (mas não é 100% de cadeia média), e o seu metabolismo tem sido alvo de estudo,mas não apresenta vantagens quando comparado com alguns óleos e azeite;

4- os MCT são 100% gordura de cadeia média, apresentando uma bioquímica e metabolismo mais protector de doença cardiovascular, mas os estudos sobre estes efeitos são também ainda inconclusivos para que se possa recomendar o seu consumo diário;

5- ingerir gordura como fonte energética é possível nas dietas cetogénicas, nas quais não se substitui os hidratos de carbono apenas numa refeição, mas sim em todas; ou seja, um café turbinado por si só, não fará o metabolismo energético da pessoa utilizar essa gordura como fonte energética o resto do dia, mas sim apenas nesse momento inicial;

6- um pequeno-almoço com cerca de 400-500 calorias, baseadas num nutriente único, não parece ser muito equilibrado;

7- o paladar deste pequeno-almoço pode não ser o mais consensual entre o público-geral.

Author

Nutricionista: amante do tipo de cozinha que procura aliar saúde aos melhores sabores; Mulher: apaixonada pela verdadeira beleza das coisas mais simples; Objectivo: ser feliz na medida do possível, gostar de mim todos os dias e ajudar quem me segue, nesse mesmo caminho.

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