Todos sabemos que a água é essencial à vida humana. De facto, cerca de dois terços do nosso corpo é composto por água, todas as células, tecidos, órgãos e estruturas corporais a contêm. É nestes meios líquidos que tudo acontece, desde a digestão a todo o metabolismo, o transporte dos nutrientes e outras substâncias no sangue (que é líquido), bem como a excreção dos produtos que não são necessários (fezes, urina). A regulação da temperatura corporal é feita através da libertação de vapor de água pela respiração e pelo suor, a pressão arterial também é regulada pela quantidade de líquidos que existem na circulação sanguínea e todas as reacções químicas que acontecem nos espaços intra e extracelulares são realizadas num meio aquoso, onde as transições e transformações envolvem moléculas de água em 99,9% dos casos.

Não é de estranhar que se apelide a água como “fonte da vida”, não é de estranhar que a água esteja no centro da Roda dos Alimentos e que esteja presente em todos os alimentos sem excepção, em maior ou menor quantidade, e também não é certamente de estranhar que sobrevivamos mais dias sem comer alimentos do que sem beber água.

As recomendações gerais sobre a quantidade de líquidos que devemos ingerir apontam para os tradicionais 1,5 litros por dia. A somar a esta quantidade devemos incluir a água que obtemos através dos alimentos e preparações  como a fruta, sopas e outros caldos e ainda os lacticínios.

Mas será que todos necessitamos realmente de 1,5 litros de água por dia, ou trata-se de uma recomendação geral de saúde pública? Será uma quantidade definida baseada numa média ponderada de estudos com grandes amostras de indivíduos, incluindo todas as etnias, idades e géneros? Sim, é uma recomendação generalizada para a população, que pode até ser traduzida em número de copos (6 a 8 copos de 200ml por dia), de forma a ser mais facilmente cumprida. A evidência mostra vantagens nesse consumo. No entanto devemos atentar no seguinte: a regulação dos níveis de água corporal faz-se essencialmente através de mecanismos de excreção (urina, fezes, respiração e suor) e de ingestão, por via oral. Há situações de doença infecciosa (especificamente renal, cardíaca e/ou respiratória), de toma de certos medicamentos, ainda a prática de desporto intensivo e/ou prolongado, assim como o clima húmido e/ou com temperaturas elevadas, que afectam o equilíbrio normal de líquidos corporais. Tal condiciona, naturalmente, as necessidades individuais de hidratação. Assim, considerando cada situação específica, poderá ser necessário reforçar ou diminuir a ingestão habitual de líquidos e alterar (ou não) o tipo de líquidos a ingerir. Não me refiro a beber mais ou menos do que os tais 1,5 litros recomendados, mas sim a beber mais ou menos do que é o seu habitual. É muito importante que fique claro! Cada pessoa tem o seu equilíbrio próprio e o mais importante é mantê-lo. 

Importa reforçar, no entanto, que não nos devemos guiar pela sensação de sede. A sede serve para nos avisar que o organismo necessita de água, ou seja, que os níveis corporais estão a atingir níveis reduzidos e que é importante repor. Há pessoas que têm este mecanismo muito pouco evidenciado e que por isso raramente (ou quase nunca) sentem sede. Tal não significa, naturalmente, que não precisem de ingerir líquidos. 

Nunca é demais sugerir a avaliação e aconselhamento por um profissional de saúde que, de forma mais informada, poderá conseguir detectar sinais e sintomas de desidratação ou hipohidratação e assim, de forma mais eficaz e baseada na evidência científica, recomendar a ingestão específica de líquidos que deverá fazer em cada uma destas situações.

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Nutricionista: amante do tipo de cozinha que procura aliar saúde aos melhores sabores; Mulher: apaixonada pela verdadeira beleza das coisas mais simples; Objectivo: ser feliz na medida do possível, gostar de mim todos os dias e ajudar quem me segue, nesse mesmo caminho.

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