A forma mais simplista de olhar para esta questão é pensar no número de calorias ingeridas e no número de calorias gastas e o resto é matemática. Quando ingerimos mais do que gastamos, o peso aumenta, quando o inverso acontece o peso diminui. Não podemos esquecer, no entanto, que o peso não é só o número que aparece na balança: é o conjunto de vários tecidos e órgãos, cada qual com as suas propriedades e fisiologias muito próprias e por isso, aquilo que parece matemática pura à partida, tem tantas variáveis pelo meio que se torna mais num sistema dinâmico digno de física quântica. Não invalida que se tenha atenção à energia ingerida e gasta, mas relembra que o corpo não é um simples recipiente de entrada e saída de energia; importa também o que essa entrada e saída provocam no funcionamento de todas essas estruturas.

Concentremo-nos em apenas alguns aspetos: tecido muscular, tecido adiposo, sistema endócrino (hormonal) e sistema gastrointestinal. Estes são os 4 mediadores mais importantes das alterações quantitativas e qualitativas do nosso corpo. A permeabilidade intestinal, por exemplo, é responsável pela passagem de toxinas que contribuem para o desenvolvimento da diabetes, de inflamações e para o fato de algumas pessoas obesas sentirem fome constantemente.

Um estudo recente publicado na Nature  (pode ler a notícia que o divulga, aqui) aborda a utilização de uma bactéria e de uma proteína isolada desta bactéria, na regulação da gordura corporal e no aparecimento de diabetes. Alegadamente os ensaios realizados em cobaias mostram que os mecanismos pelos quais isto acontece prendem-se com o controlo da absorção intestinal de nutrientes e um efeito direto na produção e efeitos orgânicos da insulina. Não importa esmiuçar os mecanismos através dos quais os autores concluíram que estes processos acontecem, mas sim reforçar o papel importante que o funcionamento intestinal e a hormona insulina desempenham na fisiopatologia destas doenças. Poderá haver aqui um potencial medicamento para a prevenção e/ou tratamento de obesidade e diabetes, mas ainda há muito caminho a percorrer e muitos estudos em humanos.

Se quiser perder peso, arriscaria dizer que qualquer dieta de restrição acentuada de calorias resolve-lhe o assunto. Se quiser alterar o funcionamento dos vários tecidos e componentes do organismo, equilibra-los com os efeitos da atividade física, a repercussão destes no sistema hormonal, com o contributo da saúde gastrointestinal, não é qualquer combinação de alimentos e/ou nutrientes que lhe resolve o assunto. É um sistema aberto, dinâmico, em constante mudança e por caminhos que a ciência ainda não domina na sua totalidade.

Será que uma caloria é sempre uma caloria, com idênticos efeitos no corpo? Arriscaria dizer que não! Aliás, à velocidade que a ciência evolui, as verdades de hoje são muitas vezes contestadas já amanhã ou depois.

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Nutricionista: amante do tipo de cozinha que procura aliar saúde aos melhores sabores; Mulher: apaixonada pela verdadeira beleza das coisas mais simples; Objectivo: ser feliz na medida do possível, gostar de mim todos os dias e ajudar quem me segue, nesse mesmo caminho.

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