Vários meios de comunicação social alertaram nos últimos dias para o consumo das “novas”sementes (chia, linhaça, girassol, sésamo…). Faz sentido reforçar, aqui no blog, o que foi dito genericamente pelos médicos e nutricionistas que comentaram o assunto.
Naturalmente que nem estas, nem nenhumas outras sementes são a solução milagrosa para todos os males de saúde da população, nem curam ou evitam todos os tipos de doenças.
Até há umas décadas os problemas de saúde mais associados a mortalidade eram as doenças infectocontagiosas. Com o avanço da investigação na área da vacinação e medicação (antibióticos por exemplo), este problema foi largamente ultrapassado, reduzindo a taxa de mortalidade e aumentando a esperança média de vida. Associado a estes factos, aumentou – e muito – a prevalência de doenças crónicas: diabetes, obesidade, cancro, doenças cardiovasculares… Como o próprio nome indica, são doenças que se desenvolvem ao longo do tempo, normalmente começam por ser assintomáticas, até que são diagnosticadas, medicadas e controladas. Estas doenças podem, no entanto, na sua larga maioria, ser evitadas através de um estilo de vida saudável, que contemple exercício físico, boa alimentação, sem o consumo de substâncias nocivas, como tabaco, álcool e/ou outras drogas. No entanto, é natural no ser humano a procura de um produto que permita ter estilo de vida menos saudável e, mesmo assim, ter saúde, ou seja, um “produto milagroso”. Para responder às expectativas do consumidor, sobretudo nos últimos anos a indústria alimentar tem procurado oferecer mais destes produtos e estas “novas” sementes têm sido apontadas, pela sua riqueza vitamínica, mineral, em fibras, fitoquímicos, bons hidratos de carbono e gorduras vegetais, como um desses produtos possíveis de fazer milagres pela saúde.
As sementes, no entanto, não contêm todos os nutrientes necessários ao organismo, nem podem ser consumidos “ad libitum”. Tal como qualquer outro alimento, têm de ser ingeridos no âmbito de uma alimentação parcimoniosa e completa. Têm também de ser digeridas e absorvidas pelo intestino e, para tudo isto acontecer, o corpo tem de ter capacidade para o fazer. A ingestão excessiva pode acarretar efeitos gastrointestinais adversos, tão simplesmente pela falta de capacidade do intestino em digerir e absorver tamanhas quantidades, ou, por outro lado, pela falta de ingestão de água e prática de exercício físico, tão importantes no auxílio ao intestino para cumprir estas funções.
Ninguém coloca em causa as boas propriedades nutricionais destes produtos, mas a massificação da sua produção pela indústria alimentar, carregada por estes fortes argumentos de procura de saúde e produtos milagrosos, pode levar a erros de produção que resultem em produtos finais menos ricos do que a matéria prima original, podendo perder-se os efeitos benéficos para a saúde, ou mesmo obter produtos contaminados, por ocorrência de maiores riscos de higiene e segurança alimentar. São dezenas as pequenas empresas e correspondentes lojas que tentam ter estes produtos à venda, o que pode tornar-se preocupante.
Deixo um conselho: adquira sementes de origem biológica, controlada e use pequenas quantidades diariamente. Não se esqueça de hidratar as mais pequenas, como as de chia ou linhaça. Para tal, coloque-as em água uns minutos antes de usar ou então, simplesmente adicione-as ao iogurte ou à sopa e aguarde um pouco antes de comer. Se souber os passos e tiver tempo, outra opção interessante poderá ser germiná-las e ingerir nessa fase.

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Nutricionista: amante do tipo de cozinha que procura aliar saúde aos melhores sabores; Mulher: apaixonada pela verdadeira beleza das coisas mais simples; Objectivo: ser feliz na medida do possível, gostar de mim todos os dias e ajudar quem me segue, nesse mesmo caminho.

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