Há cerca de um mês saiu um artigo na Revista Cell Reports que dava conhecimento da descoberta de uma nova molécula capaz de alterar a pigmentação da pele, sem a necessidade de exposição solar, que sabemos que poder ser cancerígena, quando em exagero. No final do artigo pode ler-se, no entanto, que as alterações provocadas por esta nova molécula ainda têm de ser muito bem estudadas em laboratório e em humanos, pois não se conhecem com rigor todos os mecanismos envolvidos, nem as reacções do organismo à sua acção por períodos prolongados. Colocam mesmo a hipótese de as alterações causadas serem irreversíveis e por isso serem elas mesmo cancerígenas.

Ora claro que esta é a altura ideal para vos escrever sobre o efeito da nutrição e alimentação na saúde da nossa pele

Todas as tentativas hoje em dia vão no sentido de se procurar a todo o custo um bronzeado natural e uniforme, de preferência que dure o ano inteiro. Convém no entanto perceber que o bronzeado natural resulta de uma reacção da pele à exposição solar, como forma de a proteger dos efeitos agressivos da radiação UV. Apesar do nosso país estar à beira mar plantado e ser bastante solarengo, nos meses de Outono e Inverno a intensidade dos raios UV raramente é suficiente para esta “pigmentação extra” que tanto ansiamos, até porque a área da pele que está exposta é consideravelmente menor. Tal não invalida que não devamos ter os maiores cuidados com a mesma, incluindo cabelo e unhas, para que, quando o sol volta a espreitar, haja as condições necessárias ao tal saudável ganho de coloração. A pele, cabelo e unhas com o aspecto mais saudável são aqueles que estão bem nutridos, ou seja, que dispõem de todos os nutrientes necessários para se proteger das agressões constantes do meio exterior e do normal processo de envelhecimento.

Esses nutrientes são as vitaminas A (e beta-caroteno), B12, C, E e niacina, bem como os minerais zinco, selénio e ferro e as gorduras essenciais (ómega-6 e ómega-3). Tenhamos atenção que tanto o défice como o excesso destes nutrientes podem causar alterações na estrutura, coloração, resistência, capacidade de cicatrização, hidratação, etc. Comecemos então por uma correcta nutrição!

Uma ingestão elevada de alimentos açucarados está relacionada com o maior risco de aparecimento de acne. Por outro lado, uma ingestão muito reduzida de hidratos de carbono e proteínas pode originar uma desnutrição que afecta a integridade das estruturas da pele, bem como a sua resposta imunitária aos microorganismos do exterior, ficando mais expostos a possíveis feridas ou infecções da pele. Assim, devemos escolher bons hidratos de carbono, reduzindo os açúcares simples: cereais integrais, frutas, hortícolas e lacticínios; e devemos completar 2 ou 3 refeições do dia com proteínas: laticínios, leguminosas, ovos, carnes magras e o pescado (variando entre magro ou gordo).

O défice de gorduras essenciais, ou um desequilíbrio na proporção entre omega-6 e omega-3, pode originar uma maior perda de água por dificuldade da pele em a reter através dos poros, entre as várias camadas de pele. Estas gorduras são influenciadoras de inflamação, pelo que uma ingestão muito maior de omega-6 do que de omega-3 resulta num estado aumentado de inflamação. Isto é bem patente hoje em dia através da ingestão muito reduzida de pescado e mais elevada de óleos vegetais, produtos de soja e muitos produtos processados. A psoríase, por exemplo, é agravada por esta desproporção de ingestão, por isso coma mais peixe, especialmente se sofre desta condição.

A dermatite herpetiforme é melhorada pela exclusão do glúten da dieta, enquanto a dermatite atópica e a urticária beneficiam da redução de ingestão de ovos, leite, amendoins, pescado, trigo, soja e marisco.

Como já foi referido, o excesso nutricional também pode causar alterações de pele. O exemplo mais clássico é a tentativa exagerada de ingerir alimentos ricos em vitamina A (e beta-carotenos: cenouras, tomates e derivados, melão) na esperança de que a pele fique muito pigmentada (melanina) e durante muito tempo. O resultado é uma pele amarelada pelo excesso de carotenóides porque a partir de certa quantidade já não é possível estimular mais a produção de melanina, a não ser pelo exposição solar. Para optimizar a cicatrização de feridas e melhorar a saúde de cabelos e unhas, a alimentação deve ser reforçada em zinco, selénio e ferro, e vitaminas A, C, E e K; todos pelo seu papel antioxidante e basal na construção e manutenção dos tecidos. Ingerir em demasia não confere maior protecção e por isso não faz com que possamos estar mais minutos expostos ao sol.

O café, o chá e outras bebidas quentes, o chocolate, as bebidas alcoólicas, as comidas picantes, o junk food resultam na rosácea e no aumento de crises inesperadas de pequenas lesões de pele, especialmente em peles atópicas.

Curioso não é? Parece que quase todas situações vão resultar no mesmo: basear a alimentação em cereais e derivados integrais, frutas e hortícolas, com um bom aporte de proteína, especialmente proveniente de laticínios e carnes magras e pescado gordo. A hidratação é o complemento ideal e a exposição da pele a quantidades naturais e bem doseadas de radiação UV o bronzeador mais eficaz. 

 

 

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Nutricionista: amante do tipo de cozinha que procura aliar saúde aos melhores sabores; Mulher: apaixonada pela verdadeira beleza das coisas mais simples; Objectivo: ser feliz na medida do possível, gostar de mim todos os dias e ajudar quem me segue, nesse mesmo caminho.

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  1. Olá, tenho muito interesse em saber mais sobre alimentos para pessoas com intensa dermatite atópica. Sofro com isso desde meu nascimento e gostaria de entender mais sobre como a alimentação pode me auxiliar! Obrigada

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