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Motivação

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O modo como encaramos as situações ajuda muito na sua resolução e também nos define. Em muitos casos de doença grave, já era sabido que a forma de lidar com o sucedido parecia influenciar o desenrolar da doença…
Um estudo realizado com mais de 70 mil mulheres vem agora confirmar que o optimismo tem, realmente, um papel importante no estado de saúde e mesmo no tempo de vida, influenciando ambos de modo positivo.
Veja a notícia na íntegra aqui e, se ainda não pratica este modo de vida, vale a pena fazer um esforço para começar!

“Adorar como fazem os adultos!  Fingir estados de alma inanimados. Despertar as  emoções que querem calar fundo mas, num breve instante controlado, de repente, já se desvanecem. À procura de um novo despertar, inconsistente. E das repetições que, sem encher as horas, iludem o tempo e a vontade…  Adorar à superfície das palavras, vazias e fugazes, sem futuro…

Adorar como fazem as crianças! De olhar limpo e inocente. Com o brilho no olhar e o calor nos gestos. Ávidas de uma igual resposta,  apetecida. Sem querer senão amar e ser amadas. Com a palavra solta e muita emoção à flor da pele. Com a verdade nua e crua de que só a inocência é capaz.”

Este texto foi escrito por alguém que amo mais que a própria vida. Alguém que me deixa invariavelmente a pensar…
E este é um tema que muito me inquieta. Intriga-me o amor volátil que nos “prende” temporariamente hoje em dia. Temporariamente. Num tempo que tantas vezes não permite passar mais que um ou dois Natais juntos. Isto, se lá chegar!
Entristece-me esta falta de consistência, muitas vezes dou por mim a pensar que o problema é a pouca maturidade, a insatisfação constante, a necessidade – infantil – de mudança, de novidade. Mas nem sempre é assim. É injusto avaliar sem conhecer o que vive dentro de cada um de nós, o nosso passado, os receios, o fardo que transportamos…
Tantas vezes fomos criando um conto de fadas na nossa mente, que procuramos o príncipe encantado insistentemente. Mas o castelo que conseguimos construir – e “conseguimos” nem sequer devia aparecer aqui – , tantas vezes com a ânsia de finalmente acertar, após repetições sucessivas de relações fracassadas, é de lã. E é fácil perder a ponta do novelo de lã que tece esse castelo e parece que há tendência, tantas outras vezes, a criar várias pontas, todas soltas!
Há uns meses li uma entrevista da minha querida Júlia Pinheiro em que dizia «Abomino a ideia do príncipe encantado. Sou contra. Se existir algum vamos abatê-lo». A verdade é que não existem, assim como nós, mulheres, estamos longe de ser as princesas desses contos de encantar. Mas o que eu acho mesmo é que nos colocámos num pedestal, tornámo-nos egoístas e passámos a ter como certo e incontestável o facto de merecermos “o melhor”. Tanto homens como mulheres. Merecemos, claro. Ouvimos histórias de amigos e parece-nos praticamente impossível permitirmo-nos estar naquelas situações constrangedoras, que “revelam falta de amor próprio” – afinal somos os melhores e terão que nos prestar uma espécie de vassalagem, se querem ter o privilégio de ficar ao nosso lado. Pois… Mas não somos! Temos mil defeitos, se não for o mau acordar, é a necessidade de dormir demais, perdendo momentos importantes a dois, como assistir a um filme agarradinhos, durante a semana. Se não for o não chegar a casa a tempo de ajudar a fazer o jantar, é o ligar a televisão no momento da refeição, criando um silêncio ensurdecedor.
Dizia eu que nem sempre é assim, claro que não, mas a maior parte das vezes não somos tão condescendentes como deveríamos ser. A pessoa com quem nos sentimos bem não tem que ter também umas mãos lindas porque sempre o valorizámos ou porque o João, o Francisco ou a Maria têm. Sim, há aparentemente muitas opções à nossa mercê, mas se não nos dedicarmos inteira e puramente a cada pessoa, como poderemos apaixonar-nos longamente por ela? Fará sentimos dispersarmo-nos, não seremos muito mais felizes dedicando-nos a um mundo singular? Entendo que tantas vezes nos convençamos de que, se não nos permitirmos criar laços fortes, não estaremos vulneráveis, à mercê do sofrimento. Não. Não! Não viveremos, assim.  Seremos reféns de regras, manipuladores da nossa própria existência.
O “amor” dos adultos começa muitas vezes com uma carga que consciente ou inconscientemente modifica cada dia e o que devia ser livre, é controlado. “Não vou enviar mensagem para ver se ele se lembra de mim.” “Vou aparecer com uma amiga no café onde ela costuma estar à noite, para que fique na duvida e me valorize.” Que raio de histórias estas que criamos e cujo enredo cansa e nada pode trazer de puro!
O amor das crianças é uma benção! Não traz esse lixo tóxico que são as nossas teorias acerca das relações e do comportamento humano. Não traz o medo do indeterminado e a necessidade de protecção. Traz apenas a entrega, a ingenuidade, a espontaneidade que apaixona.
Não são as gargalhadas limpas que nos prendem? Os pequenos gestos puros sem necessidade de manifestações exageradas? O que nos prende uma vida inteira é o amor desinteressado, aquele que não se esconde, mas que não é pensado, simplesmente se sente e tudo flui. É o único amor que existe: o que sentem as crianças! É esse que devemos copiar…
Bem sei o quão desprotegidos ficamos quando nos entregamos assim. O amor que sentem as crianças é tão indefeso como elas mesmas… Assusta, assim, mas não será essa a razão pela qual é também tão maravilhoso?
O desafio é que nós, adultos, marcados pela vida, consigamos limpar a alma e amar outra vez de forma simples e pura, como já fizemos, como fazem as crianças!
Ilustração de João Rodrigues.